Especular é uma prática aventureira; é a invenção de um campo em que os problemas podem ser transpostos, com a confiança de que, apenas no procedimento mesmo de transposição, os problemas se desdobrarão. Podemos fazer um plebiscito sobre o branqueamento dos corais com Estrelas-do-Mar, organizar um sindicato de Saguis, fazer justiça para as entidades-montanha engolidas pela mineração… 

Tal especulação se diferencia da especulação financeira, que seduz por meio da mensuração e precificação de uma possibilidade dentro de um cercadinho de possibilidades já bem definidas. Nesse sentido, especular não se trata de extrapolar as tendências já existentes, mas da atividade de excedê-las, criá-las e recriá-las. Por meio desta, deixar-se seduzir e encorajar por proposições desconcertantes: é o encantamento que torna real a especulação.